AO GENERAL TORRES DE MELO
Sérgio de Vasconcellos.
MM. DD. General Torres de Melo.
Sou profundo admirador do seu
relevante trabalho em prol da Pátria, que venho acompanhando, inclusive
recebendo diretamente no meu e-mail os seus esclarecedores “Documentos”.
No início de 2012, o Sr.
brindou-nos com uma brilhantíssima resposta à jornalista Miriam Leitão, que
ganhou imensa repercussão no mundo virtual sendo reproduzida em várias dezenas
de blogs e recebendo inumeráveis elogios, o que certamente deve ter deixado à
caterva comunista bastante perplexa. Pretendi já naquela época tecer umas
breves observações ao seu magnífico escrito, mas, não o fiz e, agora, serenada a
merecidíssima reverberação de seu Artigo, resolvi publicar as considerações que
o mesmo me suscitou sobre a presença Militar na História Nacional (1).
O Sr. na sua excepcional resposta
à citada jornalista nos dá a impressão de que os Militares tiveram um papel
secundário na Vida Nacional, indo a reboque das maquinações civis, o que não
posso concordar. De forma alguma podemos amesquinhar a participação das Forças
Armadas na História Pátria.
De fato, foi a atuação do Duque
de Caxias e de outros Militares de igual envergadura intelectual e moral que
impediram que o separatismo lacerasse o corpo da Pátria. Hoje, que as mesmas
forças centrífugas se fazem sentir, também estipendiadas pelo mesmo Capitalismo
Financeiro Internacional que financiou as revoltas separatistas ao tempo do
Império, pergunto: Terá o Brasil Soldados da fibra de Caxias, Amazonas, Herval,
Tamandaré para sustentar a integridade nacional? O Sr. como Militar está em
condições de responder esta dúvida que, posso adiantar, está longe de ser
unicamente minha.
Querer reduzir o papel do
Proclamador da República e de seu Consolidador ao de indivíduos “envolvidos”
por “políticos” é querer passar atestado de burrice em Deodoro e Floriano. A
Proclamação da República foi um Movimento Militar em que o Povo Brasileiro e a
maioria dos Políticos não tiveram qualquer participação, salvo por um pequeno
grupo de republicanos, que se aproveitou da situação para derrubar a Monarquia,
pois, quando Deodoro rebelou suas tropas seu objetivo era apenas a deposição do
Gabinete Ouro Preto. Estando este e demais Ministros literalmente presos no
Campo de Santana, o Imperador então convoca Silveira Martins, conhecido pelo
seu rigor, para compor um novo Gabinete, e somente aí o General Deodoro
ultrapassa a linha da insubordinação e trai o Império que jurara defender. Foi
a primeira, porém, não a última intervenção Militar na Política. A segunda foi
a deposição do próprio Deodoro pelo seu Vice, o General Floriano Peixoto...
Portanto, General, a malsinada Proclamação da República está muito longe de ser
um exemplo de respeito à Lei e à Ordem.
A Política dos Governadores? Ora,
é o fruto sazonado da quartelada de 15 de Novembro de 1889 e manteve-se à
sombra das baionetas enquanto durou a República Velha, inclusive, prestando-se
a eleição fraudada do Marechal Hermes para a Presidência da República. Onde
estavam os Militares de brio que impugnassem tal roubalheira e garantissem a
verdade das urnas, nas quais fora eleito Rui Barbosa? Omitiram-se, permitindo
mais esse desrespeito à Lei e à Ordem. E como foram tratados os Militares que
se rebelaram na defesa da Lei e da Ordem, por exemplo, na Revolta da Armada, na
Revolução Federalista, na Revolta da Chibata? Tiveram o apoio do restante do
Exército e da Marinha? Sabemos que não, pelo contrário, num belo exemplo de
como compreendiam o que era o respeito à Lei e à Ordem: Ficaram ao lado do GOVERNO,
ajudando que este rasgasse a Lei e impusesse a Ordem que bem entendia a Nação
atônita. O Tenentismo jamais foi aceito pela cúpula militar da década de 20, e
só não é tratado com a mesma forma desairosa que outros Militares que se
levantaram em épocas anteriores, simplesmente porque muitos deles participaram
da vitoriosa Revolução de 30, não fosse isto e seriam mencionados com desdém e
vergonha pelos Militares de Ontem e de Hoje. E o levante dos 18 do Forte? E a
Revolta do Izidoro, em que se chegou a bombardear a Cidade de São Paulo? Quem
estava com a Lei e Ordem? Os Militares revoltosos ou os Militares
situacionistas? De qualquer maneira que se opine não se pode negar que se
tratava de intervenção militar na Política Nacional.
Onde estavam os corajosos
Militares defensores da Lei e da Ordem quando Civis e Militares insurrectos
fizeram um tranquilo passeio do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro e
derrubaram o Presidente Washington Luís e impediram a posse do recém-eleito
Júlio Prestes? O grupo Militar que se revoltou não deu a mínima a Lei e a Ordem
e o restante ADERIU, traindo a Lei e a Ordem que sustentara até a véspera.
Instala-se um Governo Discricionário, que nomeia Interventores para todos os
Estados – menos para Minas Gerais – e tal estado anômalo perdura até que
Paulistas – Civis e Militares – levantam-se em defesa da Lei e da Ordem! É a
Revolução Constitucionalista! Sim, o Brasil estava sem Constituição! Onde os
Militares que segundo o Sr. sempre sustentaram a Lei e a Ordem que nada fizeram
para exigir do Getúlio e dos demais Políticos que tomaram posse do Palácio do
Catete o retorno à Democracia? O Estado de São Paulo sofreu, mas, deu um
exemplo de civismo, e se perdeu no plano militar, porque o Exército e a Marinha
da época pareciam achar muito natural que em pleno século XX o Brasil não
tivesse Constituição e que a Ordem fosse determinada por um Governo
Discricionário, ficaram leais – pelo menos dessa vez – ao grupo que açambarcara
o Poder em 1930, repito, se perdeu no plano militar, a Revolução Constitucionalista
ganhou no Político, porque Vargas percebeu que era necessário voltar ao Estado
de Direito e convocou uma Assembleia Nacional Constituinte. Por acaso, fizeram
alguma coisa os Militares defensores da Lei e da Ordem quando Getúlio pactuou
com o Congresso em 1934, num autêntico golpe, pelo qual os Constituintes
passaram a condição de Senadores e Deputados Federais, elegendo-o então
indiretamente Presidente da República? Nem um tirozinho, General? Que raio de
defensores da Lei e da Ordem são estes, General? Só os Integralistas alertaram
para as consequências funestas de tal Golpe Parlamentar. Fato semelhante já
ocorrera no início da República, quando o mesmo tipo de barganha fez o General
Deodoro da Fonseca para se perpetuar no Poder e o resultado final não foi bom a
começar pelo próprio Deodoro que foi defenestrado pelo Floriano. Mas, segundo o
Sr. eles eram apenas dois ingênuos enrolados pelos Políticos...
E a Revolução de 1935? Que fiasco
a atuação dos Militares! Sobre este episódio tenho já tenho um Artigo, "O Integralismo e a Revolução Comunista de 1935", cuja
leitura recomendo.
Chegamos aqui ao ápice da defesa
da Lei e da Ordem pelos Militares de Ontem, o Estado Novo! Que exemplo
edificante para os Militares de Hoje... As “velhas raposas” encasteladas no
Catete em cumplicidade com a cúpula Militar do Ministério da Guerra resolvem
não permitir que ocorram as eleições de Janeiro de 1938, afinal, vai que o tal
Plínio Salgado se eleja e ponha fim à farra... Então um General carreirista,
cujo nome não mencionarei por razões de higiene, rouba descaradamente do então
Capitão Mourão Filho um documento reservado da Ação Integralista Brasileira E O
APRESENTA À NAÇÃO COMO UM PLANO COMUNISTA QUE FORA DESCOBERTO PELO EXÉRCITO!!!
Sim, General Melo, este era o nível moral e intelectual de muitos Militares de Ontem.
Infelizmente! Com esta falsa justificativa, com TOTAL APOIO dos Ministros
Militares se instalou o Estado totalitário no Brasil! Evidentemente, nem todos
os Militares eram desta mesma tibieza moral e, então, começou a conspiração que
redundaria na malograda Revolução de 11 de Maio de 1938. Esta, sim, uma
iniciativa que visava defender a Lei e a Ordem por Brasileiros Militares e
Civis (entre os quais, nós, Integralistas), restaurando o Estado de Direito, o
retorno à Constituição de 1934, a convocação de eleições livres, a anistia
política, etc. Mas, de que lado ficaram as Forças Armadas? Da Lei e da Ordem,
isto é, da Constituição de 1934 ou do totalitarismo estadonovista? É fato,
ficaram com Estado Novo e contra a Lei e a Ordem!!! Em 1945, o General Dutra
manda o Getúlio ir veranear em Itu e com imerecida aura de herói da 2ª Guerra
elege-se Presidente da República. Só fico na dúvida quando o Dutra e os
Militares que o apoiavam defenderam a Lei e a Ordem, se quando depuseram Vargas
ou quando garantiram a eleição do Dutra pelos velhos e conhecidos manejos da
fraude eleitoral?
Não abordarei sua simplista visão
da Guerra Fria, escaparia a finalidade desta. Quem sabe noutra oportunidade.
Sei... O Inquérito do Galeão não
era da alçada militar... De fato, o Getúlio da década de 50 estava mal cercado,
mas, não apenas por civis...
Quanto ao Movimento que redundou
na Revolução de 1964, ele se inicia entre CIVIS com total e completa omissão
dos Militares, salvo pelas honrosas exceções de praxe, com as Marchas da Família.
Havia uma opinião pública favorável à deposição de Jango, mas, os Militares até
30 de Março eram janguistas, digo, defensores da Lei e da Ordem... Então, um
Militar de verdade, cansado da lassidão das FFAA, sai de Juiz de Fora e marcha
para o Rio de Janeiro e dá início a Redentora, e, então, vieram as ADESÕES de
outras unidades Militares, começando pela mais importante, o 1º Exército.
Registre-se o nome do Militar, autêntico Patriota, e não um reles carreirista
fardado: General Olympio Mourão Filho. MAS, infelizmente, SEMPRE HÁ UM “MAS”, a
Revolução de 31 de Março de 1964, uma autêntica contrarrevolução, cuja
finalidade era garantir a Lei e a Ordem, preservando a Democracia, o Estado de
Direito, que os comunistas em breve destruiriam com a implantação de um Estado
totalitário bolchevista, acabou por atentar exatamente contra a Lei e a Ordem,
fechando o Congresso, mandando as urtigas a Constituição de 1946, abolindo os
Partidos Políticos, fazendo cassações inúmeras, convocando uma nova
Constituinte, que redigiu a Carta de 1967, reformulada discricionariamente
pelos Militares em 1969, enfim, todo um cortejo de medidas que tiveram como
consequência final, o Brasil que temos hoje! Ah! Esqueci que para o Sr. a culpa
é sempre dos Civis... Os Militares continuam ingênuos como Deodoro e
Floriano...
Os Militares são democratas?
Foram democratas quando derrubaram o Gabinete Ouro Preto? Foram democratas
quando mandaram o Deodoro para a Casa? Foram democratas quando permitiram a derrubada
do Presidente Washington Luiz? Foram democratas quando não tugiram nem mugiram
durante dois anos de Governo Discricionário do Sr. Vargas? Foram democratas
quando sustentaram durante oito anos o totalitário Estado Novo? Foram
democratas quando fecharam os Partidos e praticaram todo tipo de excesso
durante o Regime Militar ao arrepio das mais comezinhas noções de Lei e de
Ordem? E dizer que “Os militares não irão às ruas sem o Povo ao seu lado” é uma
afirmação democrática e respeitadora da Lei e da Ordem? Se o Povo estiver
autenticamente insatisfeito com o atual estado de coisas no Brasil, então que
se manifeste através dos meios legais, ordeiros e democráticos existentes. Que
os militares tratem de se preparar para a Guerra caso o Brasil seja atacado e
deixem ao Povo a responsabilidade da condução da Vida Política Nacional.
Finalizando, General Torres de
Melo, creio ter demonstrado com fatos inquestionáveis da História do Brasil, que
sua “tese” não se sustenta. Desde 15 de Novembro de 1889, os Militares do
Brasil têm violado constantemente a Lei e a Ordem, pois, tendo usurpado o Poder
Moderador do Imperador estão condenados a interferir constantemente na Política
e sempre que o fazem é um desastre! Por favor, continuem em seus quartéis!
Pelo Bem do Brasil!
Anauê!
NOTA DO BLOG:
1) Segundo fui informado por um Militar, a resposta do General Torres de Melo à jornalista Miriam Leitão, não seria do início de 2012 e, sim, de 12 de Março de 2008, e que por sua vez seria uma resposta ao Artigo "Enquanto Isso", datado de 18 de Setembro de 2005. De qualquer forma, só tomei conhecimento da Carta do General Francisco Batista Torres de Melo em Fevereiro de 2012.
NOTA DO BLOG:
1) Segundo fui informado por um Militar, a resposta do General Torres de Melo à jornalista Miriam Leitão, não seria do início de 2012 e, sim, de 12 de Março de 2008, e que por sua vez seria uma resposta ao Artigo "Enquanto Isso", datado de 18 de Setembro de 2005. De qualquer forma, só tomei conhecimento da Carta do General Francisco Batista Torres de Melo em Fevereiro de 2012.
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