Sérgio de Vasconcellos.
Três
são os conceitos de Sociedade que modernamente predominam: O Individualismo, o
Coletivismo e o Grupalismo.(1)
O
Individualismo, concepção adotada pelo Liberalismo, afirma que a Sociedade é
composta por Indivíduos, livres e iguais, que, em remoto estado de natureza, firmaram
entre si, espontaneamente, um “contrato social”, onde abriram mão de reduzida
parcela da liberdade absoluta que desfrutavam, recebendo em troca certas
vantagens, como proteção e preservação dos interesses individuais pelo Estado contra
possíveis ameaças do exterior e/ou do interior da Sociedade.
O
Estado, para o Liberalismo, é um mal necessário, devendo ter funções mínimas, tais
como aquelas não lucrativas e que, por conseguinte, não atraem o interesse dos
indivíduos, mas que são essenciais às atividades econômicas, etc. Pretendendo
proteger a liberdade e igualdade dos Indivíduos, entre estes e o Estado, não admitia
a existência de quaisquer Grupos ou Corpos Intermediários, Associações – mesmo religiosas
-, pois, tais organizações significariam uma restrição parcial da liberdade
individual. Os próprios Partidos Políticos, considerados órgãos de expressão da
Democracia Liberal, não tinham existência jurídica; existiam de fato, mas não
de direito. Nenhuma Constituição Liberal, por todo o Século XIX, época de ouro
do Liberalismo Político, consagrou sequer uma linha aos Partidos, só o Indivíduo
era reconhecido. Aliás, só por razões técnicas o Estado tinha um estatuto
jurídico. Foi no vácuo criado por esta atomização da Sociedade que a Burguesia
chegou ao poder, tornando-se a classe dominante.
É
do conhecimento geral o que resultou da pretensa liberdade e igualdade entre os
Indivíduos: Ficou só no papel. Concretamente, as desigualdades eram gritantes.
A iniciativa privada sem nenhuma limitação, sem qualquer preocupação de ordem
social ou moral, objetivando unicamente o lucro, desculpada pelo Liberalismo
Econômico através das famigeradas Leis Naturais da Economia; o completo
abandono dos desafortunados, sem direito a organizarem-se para a defesa de seus
interesses; e, um Estado Neutro impossibilitado de interferir nas questões sociais
e econômicas, e de exercer funções industriais e comerciais; redundaram na mais
desenfreada exploração dos economicamente fracos pelos economicamente fortes.
O
Liberalismo Político, em sua acepção clássica, já não mais existe. O
Capitalismo Liberal travestiu-se de “neocapitalismo”, com umas tinturas
sociais, e forjou uma falsa Democracia Social que hoje vigora em todo o Mundo Ocidental.
Mas, como demonstrou Plínio Salgado, a Burguesia não é apenas a classe
dominante, porém, um estado de espírito, que atualmente penetra e corrompe
todas as classes sociais, daí a razão pela qual a arcaica ideologia liberal ainda
seduz tantos intelectuais, que levam a sério as suas obsoletas formulações
sociológicas.
O
Coletivismo, reagindo contra os excessos do Individualismo, acabou caindo no
extremo oposto, não reconhecendo no Homem qualquer outro fim que não fosse a própria
Sociedade, que o absorve inteiramente.
O
Marxismo-Leninismo, desejando eliminar as desigualdades sociais e econômicas,
nos países em que chegou ao poder, expropriou, em nome da coletividade, todos
os meios de produção e serviço, que passaram a ser propriedade exclusiva do
Estado, controlado pelo Partido Único, o Partido Comunista. É a “ditadura do
proletariado”, ou melhor, a ditadura sobre o proletariado. Eliminou-se a
liberdade por completo e o igualitarismo
não foi atingido, pelo contrário, na União Soviética, por exemplo, a nova
classe, isto é, os burocratas do regime gozam de privilégios em nada inferiores
aos da antiga aristocracia russa.
Em
Sociologia, as teses marxistas, apesar do seu bolor, são acatadas por muitos
espíritos desavisados, que defendem fanaticamente seu caráter “científico”. O
certo, porém, é que o Socialismo, fruto típico do século passado(2),
materialista, unilateral, está completamente ultrapassado e só sobrevive por
ser a superestrutura ideológica que justifica o mais agressivo expansionismo nacionalista
já registrado pela História, o Imperialismo Russo, não fosse isto e ninguém
falaria mais dele.
O
Grupalismo, por sua vez, assevera que a Sociedade é constituída por Homens e
Grupos Naturais e é esta a concepção adotada pelo Integralismo.
O
Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. É composto de corpo e alma, com
dupla destinação natural e sobrenatural, com direitos e deveres na sua tríplice
esfera de atividades materiais, intelectuais e espirituais.
A
sociabilidade é inata no Ser Humano, que tende, naturalmente, a reunir-se com
outros Homens para alcançar interesses e fins comuns, cuja consecução seria
impossível isoladamente. Assim, surgem necessariamente os Grupos Naturais – a
Família, o Grupo Profissional, o Grupo Cultural, o Grupo Político, o Município,
a Nação e a Sociedade Religiosa -, independendo, pelo menos em parte, da
vontade do Homem. Os Grupos Naturais são os instrumentos pelos quais o Homem
busca sua integral realização e, em especial, seu fim último – Deus.
O
Estado Integral, a Nação organizada moral, política e economicamente, reconhecerá
a legitimidade dos Grupos Naturais da Sociedade, inclusive, o direito de representação
política, instaurando a autêntica democracia, a Democracia Orgânica, onde todas
as forças vivas da Nação farão ouvir sua voz.
1) Publicado originalmente em “O Integralista” – Rio de Janeiro
– Ano I – Nº 01 – Maio de 1989 – p. 4.
2) Referia-me ao Século XIX.
Olá Professor Sérgio,
ResponderExcluirTenho o livro "A Concepção do Estado Integralista", é um excelente livro, mas sempre faz falta uma explicação de alguém que compreenda o momento histórico e os eventos que transcorriam no Brasil e no mundo. Textos como esse preenchem esse espaço e tornam mais clara a compreensão do livro.
Obrigado.
Anauê!
Leandro
Porquê???????????????????? Excluiu!
ResponderExcluirPor algum tempo, um pergunta tem-me acompanhado, desde meu despertar até a hora de meu descanso. Que mal tem apoderado-se de nossa pátria? O integralismo tem me dado todas as respostas à esta perguntas e outras mais, embora eu tenha procurado em vão, em diversas outras ciências políticas. Obrigado Professor Sérgio!
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